Psicóloga americana diz que a “ansiedade não é um distúrbio. Pelo contrário: ela é boa para a saúde
- radiotaquarussufm
- 24 de ago. de 2023
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A psicóloga americana Tracy Dennis-Tiwary, diretora do Emotion Regulation Lab da Hunter College, nos EUA, dedicou sua carreira ao estudo da ansiedade. Ela acreditava que se fosse possível entender o que está acontecendo no cérebro quando estamos ansiosos, quando sofremos emocionalmente, seria possível resolver isso.
No entanto, há cerca de seis anos ela teve uma espécie de epifania e se perguntou: se temos uma extensa base científica sobre a ansiedade e tratamentos maravilhosos, por que os níveis de ansiedade estão cada vez piores em vez de melhorarem? Foi quando ela descobriu que o problema está na forma como tratamos nossas emoções negativas e decidiu escrever o livro “Não tenha medo da ansiedade”, lançado em julho no Brasil pela editora Sextante.
Em entrevista ao jornal O Globo, Dennis-Tiwary explica por que acabar com a ansiedade não é o melhor caminho para uma boa saúde mental. Pelo contrário. Segundo ela, por mais desagradável que seja esse sentimento, ele é um dos responsáveis por nos fazer sobreviver, nos proteger e nos manter esperançosos.
– Afinal, o que é a ansiedade? “Hoje usamos a palavra ‘ansiedade’ para descrever tudo o que é desconfortável, em especial coisas como estresse e medo e há muita confusão sobre esses conceitos. Mas a verdade é que ansiedade não é sinônimo de estresse nem medo. A ansiedade é uma emoção e é muito importante entender isso porque, em geral, quando nos referimos à ansiedade, estamos nos referindo a um transtorno de ansiedade. Ou seja, se eu tenho ansiedade, significa que estou debilitado por ela. Mas a ansiedade não é um distúrbio. É uma emoção muito específica. É o que sentimos quando estamos pensando ou antecipando o futuro ainda incerto. Por exemplo, quando estamos nos preparando para uma entrevista de emprego ficamos ansiosos pensando que tudo poderia dar errado. Mas eu só fico ansiosa porque, na verdade, eu sei que existe uma chance de tudo dar certo e eu conseguir o emprego dos meus sonhos. Porque quando só existe a possibilidade negativa, é desespero, não ansiedade. A ansiedade diz que algo ruim pode acontecer, mas algo bom também. E é isso o que é tão fascinante na ansiedade, porque o outro lado da ansiedade é a esperança. Quando estamos ansiosos, ainda temos esperança, mas não falamos sobre isso dessa maneira. Já o medo está associado a um perigo que acontece no presente, como quando você está fazendo uma trilha e encontra uma cobra, que está prestes a te atacar. Seu corpo inicia uma resposta de luta ou fuga para lidar com o perigo, naquele momento. Já a ansiedade está nos preparando para planejar e preparar o futuro. Então essa é uma emoção ativadora que pode ser produtiva e criativa.”
– Por que encaramos a ansiedade como algo negativo ao invés de algo que pode nos ajudar? “Porque a ansiedade pode causar sensações desconfortáveis, como o coração acelerado e a sensação de ter algo preso na garganta. É por isso que igualamos medo e estresse à ansiedade. Mas existe um espectro da ansiedade que vai desde o frio na barriga até um estado de pânico total. Então, a ansiedade pode causar sensações desconfortáveis, mas também positivas.”
– Qual é o lado bom da ansiedade? “Só somos ansiosos porque temos um cérebro grande, com um córtex pré-frontal. Isso significa que o cérebro humano evoluiu para ser capaz de planejar, ou seja, executar simulações de algo que nunca existiu antes. Quando estamos ansiosos, estamos simplesmente imaginando o futuro. Há pesquisas que mostram que quando estamos ansiosos, não quando há um transtorno de ansiedade, mas apenas o sentimento, mesmo que de forma moderada ou forte, somos mais criativos. Como a ansiedade causa sensações desagradáveis, ela nos força a prestar atenção e fazer alguma coisa sobre isso porque queremos que esse sentimento ruim desapareça. Ou seja, a ansiedade nos ativa para realizar ações, persistir e ter coragem. Acho que se não fossemos ansiosos, não teríamos construído civilizações. Isso não quer dizer que não podemos fazer grandes coisas com sentimentos como esperança e alegria. Mas são as emoções desconfortáveis que nos fazem focar para fazer mudanças. Então, quando pensamos na ansiedade como uma oportunidade, nos tornamos uma espécie de ninjas emocionais, pois usamos essa emoção como ferramenta. Mas não podemos fazer isso até reconhecer que as emoções negativas fazem parte de quem somos. Essa mudança de mentalidade é realmente o primeiro passo que todos precisamos dar.” As informações são do jornal O Globo.






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